Por Pedro Nascimento Araujo
A campanha política para as eleições
municipais começou. No Estado do Rio de Janeiro, há alguns prefeitos
cuja reeleição deve se confirmar. É o caso de Eduardo Paes, na capital, e
de Rosinha Garotinho, em Campos dos Goytacazes. Ambos estão com a
popularidade em alta. No Rio de Janeiro, com resultados para mostrar, o
jovem prefeito conseguiu congregar ao redor de si as principais forças
políticas da cidade. Trata-se da segunda maior união do Estado em torno
de um nome. Porém, Paes é um prefeito que está no cargo e, portanto,
controla a máquina da prefeitura. Mais admirável que a situação do Rio
de Janeiro é a situação de Cabo Frio. A cidade vive um momento único na
política.
A união de forças políticas que se presumia serem antagônicas
em torno de Alair Corrêa é fato raro na história das campanhas após a
redemocratização, tanto na cidade, quanto no Estado; na verdade, é raro
mesmo na história do Brasil. É um feito e tanto. Especialmente se nos
lembramos que, ao contrário de Paes, Alair está sem cargo público.
Parodiando Euclydes da Cunha: Alair
Corrêa é, antes de tudo, um sobrevivente. Um sobrevivente improvável,
com mais de 40 anos de carreira e quase 70 de vida, em uma região que é
conhecida por destruir carreiras políticas. Político surgido nos anos de
chumbo, não se aliou à ditadura, como muitos fizeram, por convicções
pessoais. Foi oposição ao regime militar, ainda que isso significasse
perseguições e dificuldades. Elegeu-se prefeito pela primeira vez nos
longínquos anos 1980. Depois, reinventou-se. Foi novamente prefeito, já
no tempo da reeleição, e entrou o século 21 como um dos mais admiráveis
administradores públicos do Brasil. Fez seu sucessor e elegeu-se
deputado estadual com votação recorde na região.
Estava no auge e
poderia ter encerrado a carreira. Porém, um rompimento shakespeariano
com seu sucessor o fez voltar a reinventar-se. Durante os desastrosos
mandatos de Marquinho Mendes, o nome de Alair voltou a ganhar força.
Quanto pior era a administração de Mendes, maior era a força de Alair.
Mas ele não controlava máquina nenhuma. Não possuía mandato. Não é um
homem jovem. Como, então, conseguiu suplantar Paes?
Primeiro, há que se destacar as
inabilidades política e administrativa de Marquinho Mendes. Mesmo
comandando orçamentos bilionários na prefeitura de Cabo Frio, Mendes não
conseguiu fazer uma administração minimamente razoável – quem dirá
arregimentar forças políticas ao redor de si; na verdade, conseguiu a
nada invejável proeza de perder apoio progressivamente. Ao não cumprir
compromissos, Mendes foi se isolando a ponto de ficar sem candidato para
apoiar. De última hora, para manter as aparências, juntou-se a um
adversário histórico, ao qual não deverá se dedicar além do que o
protocolo exige – mesmo porque, dada a rejeição que a população
desenvolveu ao seu nome, o apoio de Mendes é um abraço de afogado.
E, segundo, há que se destacar as
habilidades políticas de Alair Corrêa. O veterano politico, em silêncio e
sem afobação, se reinventou. Foi paulatinamente incorporando ao seu
grupo político diversas lideranças antes antagônicas. Aparou arestas e
uniu as pessoas em torno de seu nome. Teve a grandeza de desculpar-se
por exageros retóricos cometidos contra adversários históricos. E teve a
humildade de aceitar, sem soberba, os pedidos de perdão pelos exageros
cometidos por esses mesmos adversários. Com isso, diluiu resistências,
exercendo a arte da política como um manual chinês da Antiguidade
recomendaria. A recompensa veio na forma da liderança de uma coligação
de forças sem paralelo: Alair Corrêa, sem mandato, com mais de 40 anos
de experiência e quase 70 de vida, deu uma aula de articulação política
madura, coerente e ética.
Evidentemente, grandes coligações
políticas não garantem nem grandes nem pequenas vitórias eleitorais; na
verdade, apenas demonstram a capacidade da liderança política – e
exemplos há, e aos montes, de coligações fortes que fracassaram nas
urnas. A campanha é outra disputa – difícil, longa e com potencial
desagregador. É possível estimar cenários, mas, de fato, não há como
prever seu resultado: sua majestade, o povo, pode escolher por meios
inescrutáveis mesmo ao mais experiente dos analistas. Entretanto, antes
mesmo do início da campanha, um grande legado já está disponível para
todos os políticos: em Cabo Frio, Alair Corrêa construiu alianças fortes
sem precisar vender a consciência, apenas reunindo apoios através da
liderança exercida de forma correta.
A Eduardo Paes e aos demais jovens
políticos, sugiro espelharem-se na lição que, sem ensinar, mas apenas
demonstrando pelo exemplo, ele deixou antes mesmo de a campanha começar:
façam política inclusiva, propositiva e ética. Em Cabo Frio, Alair
Corrêa provou que é possível. Fica a dica.
Pedro Nascimento Araujo é economista.
Postado por Cartão Vermelho
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