quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Um Fantasma navega entre nós !


 André Santos




No último sábado, dia 10, acordei como de costume e fui para a TV Record Minas para mais um dia de trabalho. Um simples dia de trabalho que, no entanto, foi um dos mais tristes da minha vida. Ao chegar na redação, a minha chefe de reportagem logo me abordou dizendo: “eu nunca mais ando de barco em Cabo Frio”. Eu, surpreso, não entendi os motivos da afirmação da minha colega. 
 
Nos meus pensamentos, não conseguia entender como uma pessoa, em sua mais perfeita ordem de sanidade, não gostaria de percorrer o Canal do Itajuru, adentrar a Boca da Barra, ir até a Ilha dos Papagaios, ficar bem próximo daquele mar azul límpido e ver bem lá, ao longe, a alva areia da Praia do Forte.
No entanto, ao abrir a edição daquele sábado do jornal “O Tempo”, descobri o motivo do temor de minha companheira mineira. Em letras garrafais, como a principal notícia da edição, o periódico dizia: “Tona Galea continua a navegar”. Senti vergonha em ver minha cidade natal sendo denegrida pela total falta de responsabilidade de quem deveria fiscalizar os serviços de nossa cidade.
 
 
Lembro-me bem daquele sábado cinzento de 2003. O fim de semana já estava sendo triste para mim por outros motivos, mas ver de perto a cena daqueles corpos sendo retirados na Boca da Barra foi ainda mais terrível para mim, jovem jornalista à época. Quinze pessoas morreram, seis delas mineiros. Lembro-me que a cidade ficou em luto, dos shows em homenagem a Semana Santa cancelados, da escalada do jornal Nacional inteira dedicada ao assunto e da ação imediata e correta do então prefeito Alair Corrêa em anunciar a criação da Guarda Marítima de Cabo Frio.
 
Passados oito anos, meus amigos jornalistas de “O Tempo”, no qual trabalhei durante os seis primeiros meses deste ano, me ligavam para dizer os pormenores da notícia. Como chegaram à denúncia, as irregularidades levantadas, o desenrolar dos fatos que renderam a notícia de capa da edição de sábado do jornal, que atualmente, é o segundo mais vendido em Minas Gerais (perde apenas para o Super Notícia, também do grupo de “O Tempo”). Fiquei triste, pois todos os meus amigos de profissão, sem exceção comentavam o fato ao me encontrarem. E eu, em defesa de Cabo Frio, somente podia dizer que infelizmente a mais bela cidade do país está hoje como o Tona Galea:  sem rumo, sem leme, sem timoneiro.
 
Somente podia argumentar que nas últimas vezes que Cabo Frio estampou as páginas dos grandes jornais foi somente com más notícias e escândalos: como as inúmeras cassações do atual prefeito na Justiça Eleitoral ou a grande ressaca que destruiu parte da orla da Praia do Forte em 2010. Infelizmente, tive que lamentar que os dias de prosperidade, onde pensávamos que a minha cidade estava avançando de maneira irrevogável para se tornar um dos principais pontos turísticos do país ficaram para trás.
 
Como as temporadas de transatlânticos, como a Cabofriense disputando uma final de Taça Rio, como o título de cidade mais limpa do Brasil. Hoje, apenas nos rondam fantasmas. Do desemprego; da saudade de famílias, como a minha, que só veem seus filhos poucas vezes ao ano, pois os mesmo tiveram que ir buscar em outras terras o emprego que cessou; dos turistas que gradativamente procuram outros destinos. 
Fantasmas, como o reformado Tona Galea, agora Boat Bart, ancorado nas águas tranquilas do Itajuru.
 
André Santos é jornalista e cabo-friense. Atualmente mora em Belo Horizonte onde é produtor da TV Record Minas. Foi repórter do jornal Super Notícia, também em Belo Horizonte.
Na Região dos Lagos trabalhou como repórter nos jornais Hoje, Folha dos Lagos, Primeira Hora e Lagos Jornal; nas rádios Ondas FM, Litoral e Estação 104. Foi coordenador de esportes nas rádios Cabo Frio AM e Costa do Sol AM; repórter na Lagos TV e produtor da InterTV Alto Litoral.
 
Fonte SOS Dirlei

Nenhum comentário:

Postar um comentário