Esquema do bicho investia na ligação com políticos
Investigação mostra que bicheiro doou R$ 3 mil para campanha de vereadora e cita nomes de deputados estadual e federal
Rio - A rede de influência política da quadrilha dos bicheiros Aniz Abraão David, o Anísio; Hélio Ribeiro de Oliveira, o Helinho da Grande Rio; e Luiz Pacheco Drummond, o Luizinho Drummond, vai além da cidade de Teresópolis, onde o ex-prefeito Mário de Oliveira Tricano foi preso quinta-feira na Operação Dedo de Deus, da Corregedoria Interna da Polícia Civil. Os três bicheiros continuam foragidos.
O imóvel tríplex na Avenida Atlântica, de frente para a Praia de Copacabana, na Zona Sul, está avaliado em R$ 75 milhões | Foto: Carlos Eduardo Cardoso / Agência O Dia
Em nove meses de investigações, pelo menos cinco políticos de cidades diferentes foram citados por envolvidos ou mantiveram relacionamento com os acusados. Segundo a polícia, uma das pessoas relacionadas com o grupo é a ex-vereadora pelo Partido Progressista (PP) de Mesquita Maria Cristina dos Santos Lima. Segundo a prestação de contas dela ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 2004, quando foi eleita, Duivis Coelho Anchieta, um dos bicheiros agora denunciados pelo Ministério Público, fez uma doação para a campanha no valor de R$ 3 mil.
Ainda segundo a polícia, Duivis é o responsável pela logística material em toda a Baixada Fluminense. Ele é ligado à empresa Flores e Vale Comércio e Representações, distribuidora de talões de jogo para toda a quadrilha.
Em Teresópolis, outros três políticos foram citados. Em setembro do ano passado, policiais detiveram um apontador do bicho, e, com ele, encontraram material de campanha do deputado federal Simão Sessim e do deputado estadual Ricardo Abrão. O primeiro é primo do ‘capo’ Anísio e o segundo, sobrinho. Outro deputado estadual com base em Teresópolis é mencionado por um dos presos, Marcelo Jannotti, sobrinho do ex-governador do Rio José de Carvalho Jannotti. Numa conversa telefônica, o investigado mostra que se relaciona com o deputado e chega a marcar encontros de terceiros com o parlamentar. Maria Cristina, Simão Sessim e Ricardo Abrão não foram encontrados em seus gabinetes para explicar a relação com o grupo.
A doce vida de luxo de Anísio em Copa
Impressionam o luxo e a riqueza da cobertura tríplex e mais um apartamento no 1ª andar , avaliados em R$ 75 milhões, do capo do jogo do bicho Aniz Abraão David, o Anísio, na Avenida Atlântica , Copacabana, endereço nobre e um dos mais valorizados da Zona Sul.
Preocupado com a segurança, o patrono da Beija-Flor blindou a porta de entrada da cobertura, com cerca de dez centímetros de espessura, e instalou monitores de segurança. Isso levou a polícia a utilizar helicóptero para que os agentes entrassem de rapel no imóvel e nada fosse retirado durante a ação policial.
Na cobertura há piano, obras de artes, livros sobre futebol e artistas de televisão, equipamentos de som e quatro computadores de última geração. O tamanho também chama a atenção. Os policiais levaram pelo menos 15 minutos para percorrer os mais de três mil metros quadrados. A cobertura tem mais de dez quartos e conta com jardim de inverno, outro japonês, lago artificial, spa, academia de ginástica, salão de beleza e piscina com o desenho de um beija-flor no azulejo.
A vida de rei levada pelo banqueiro do bicho é notada em todos os cantos da casa. Mala com R$ 11.650 em espécie, joias e documentos foram recolhidos no local pelos agentes da Polícia Civil. Anísio teve quatro carros blindados apreendidos.
Polícia detém 335 envolvidos com a máfia
A Polícia Civil deteve, ontem, 335 pessoas envolvidas com o jogo do bicho no Rio. Batizada de Operação Aranha, a ação apreendeu 40 máquinas de caça-níquel e R$ 14 mil em todo o estado.
Até o fechamento da edição, 45 pessoas haviam sido presas na operação Dedo de Deus, da Corregedoria da Polícia Civil. Na noite de quinta-feira, o policial civil Eduardo Murilo Dantas Sampaio, o comissário Dudu, se apresentou na Divisão Antissequestro. O ex-prefeito de Teresópolis Mário Tricano foi transferido do presídio Ary Franco, em Água Santa, para Bangu 8, onde está em cela coletiva. Ele não recebeu visitas.
Lista vai ser investigada
Lista com anotações como ‘com’ e ‘sub’ — possíveis referências a comandante e subcomandante de batalhão —, além de outras patentes menores, levam a crer que cartões de Natal, alguns recheados de dinheiro, iriam para policiais e apontadores do bicho. A soma dos valores na lista ultrapassa R$ 81 mil.
O material e R$ 50 mil foram apreendidos no escritório de Duivis Coelho Anchieta, em São João de Meriti. Responsável pela central de jogos daquele município, ele distribuía talonários na Baixada Fluminense. “O desdobramento da operação vai identificar os corrompidos”, garantiu o Corregedor da Polícia Civil, Gilson Emiliano.
Fonte : O DIA : Reportagem de Adriana Cruz e Gabriela Moreira
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